Leia a carta onde o secretário Allan Kardec pede exoneração da Semed
A Edivaldo Júnior
Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD, professor da UFMA.
“Caro
amigo. Escrevo esta carta por algumas razões. A primeira é certamente
para fazer um agradecimento público. Afinal, não devemos nos esquivar ou
nos esconder vergonhosamente quando trabalhamos muito, fizemos mais e
progredimos incrivelmente. A segunda é para poupar-te inúmeros
questionamentos. Em geral, sou dos que gostam de se calar quando a
vozearia se intensifica. Afinal, o momento político é um dos mais
tensos. A terceira é para me explicar aos vários companheiros de
jornada.
Mas o principal
objetivo é dizer que chegou o fim desta minha jornada como teu
secretário de Educação. Já vinha matutando – como todo matuto faz – na
idéia há algum tempo. Afinal, pensei que conseguiria manter-me conectado
com a sala de aula na Universidade (de onde sou!). Sou apaixonado por
Ciência. Pelo laboratório. Pelo contato com os alunos.
Tive
quatro anos na ANP, como diretor. E, agora, mais dez meses servindo na
educação de São Luís. Pensei em sair no início do ano que vem. Fecharia
um ciclo completo. Mas preferi antecipar meu pedido, que espero o
aceite. Porque tens de planejar o ano de 2014. Que vai ser incrivelmente
diferente do que foi 2013. Assim como este ano foi um passo gigantesco
em relação aos anos anteriores.
Senão
vejamos. Começamos o ano garantindo que ele não teria solução de
continuidade. Não houvesse paradas. Fizemos o TAC com o Ministério
Público – e aproveito aqui para agradecer o grande brasileiro Paulo
Avelar pelo compromisso diário de defesa da educação de qualidade! Ao
mesmo tempo em que organizávamos a secretaria em termos administrativos,
retirando-a da fancaria. À época – início do ano – lembro que recebemos
30 escolas quebradas e mais de 150 em estado francamente degradante.
Ainda
hoje, dez meses após o acontecido, não entendo como alguém pode quebrar
coisas de indefesos, como de crianças de 4 anos de idade. Mesinhas,
cadeirinhas, panelas, tudo quebrado ou roubado. Salas de aulas
incendiadas. Imediatamente entramos para garantir que o ano se iniciasse
no dia 25 de fevereiro. Foram feitas obras de engenharia não só nas 30
citadas, mas em quase 90 no total. Intervenções na área elétrica,
hidráulica e sanitária, para termos o mínimo de garantias que
funcionassem. Numa condição de adversidade incrível em que nos
encontrávamos: sem informação nenhuma sobre nosso fôlego financeiro.
Ao
mesmo tempo, tivemos de garantir transporte escolar, que serve 4500
alunos. Ativar cinco ônibus do “Caminho da Escola” que estavam parados.
Afiançar segurança nas escolas, que não existia. Hoje chegamos a quase
100%! Assegurar pessoal de conservação e limpeza. Quem suporta sujeira?
Demos
mais um grande passo reconhecendo vários direitos dos professores. Não
fizemos mais do que a obrigação, é certo. Mas não é fácil construirmos
pontes em abismos gigantescos. Não se faz educação sem professor. Embora
ele não prescinda igualmente do estudante – que é o fim, a razão da
educação. Com diálogo e transparência, foram reconhecidos os direitos à
progressão horizontal e vertical, adicional de difícil acesso, adicional
de titulação e outros que não lembro agora. Além de 9,5% de aumento –
um dos maiores do Brasil! Aqui agradeço à professora Elizabeth Castelo
Branco pelo trabalho incansável no Sindicato em defesa dos professores,
com quem muito aprendi.
Neste
momento, gostaria de lembrar de algo que não acreditei quando vi.
Trabalhadores que não tinham vínculo empregatício, mas estavam nas
escolas. Fomos ao Ministério Público do Trabalho. Fizemos um acordo
judicial para assegurar a estes que recebessem. Foram beneficiados 1100!
E, neste momento, os incansáveis profissionais da Semed fazem esforços
para que os trabalhadores que estavam de fato nas escolas sejam
absorvidos no novo contrato.
Fizemos
também a Mobilização pela Educação. Nosso IDEB é sofrível. E só se
recupera fazendo o essencial: que os pais estejam nas escolas. Criança
precisa de família para aprender. Escolhemos 20 escolas de baixo IDEB,
além da localização geográfica e inicamos a tarefa de fazer a roda
girar. Chamamos os empresários, as igrejas, os conselhos e outras
secretarias, e, juntos, trabalhamos para tirar São Luís da situação
lamentável que se encontrava.
Junto
com a FUNC, fizemos a Feira do Livro. FELIS. A cidade vibrou
literatura. Arte. Cultura. O Centro Histórico relembrou a São Luís
histórica. E inovamos. Fizemos o Passaporte Literário, garantindo a
compra de livro por parte dos estudantes. Pais exultaram. Senhoras de 50
anos puderam comprar seu primeiro livro!
Iniciamos
as reformas das escolas. Mas sem nos esquecermos do calor. Salas foram
climatizadas. Professores me relatam a alegria. Estudantes agora pedem
para fazer o lanche na própria sala de aula. Mais qualidade de vida para
a meninada.
Mais: das 25
creches anunciadas, já assinei 13 contratos para construção. Elas podem
ser construídas logo. E serem entregues ainda no primeiro semestre de
2014! Entrego-te também todo o seletivo para 1000 professores preparado!
O edital já pode ser lançado.
Fizemos
muito mais. Alfabetização na Idade Certa e Saúde na Escola, em parceria
com a UFMA, por exemplo; Neurociência na educação infantil; Reativação
da Casa das Águas; Alfabetização para pacientes com problemas renais.
Mas vou me abster de citar todos.
Acho
que, neste momento, tens um ambiente estável para continuar teu
trabalho na educação. Sempre disse que tínhamos que trocar o pneu com o
carro andando. Afirmo com muita alegria que trocamos foram todos os
pneus! Agora, o trabalho é de lubrificar, pintar, organizar a casa.
Tínhamos, no início do ano, uma tarefa colossal. Quase intransponível.
Agora, tens uma grande tarefa. O caminho está pavimentado.
Nesse
caminho, acho eu, é fundamental o Plano Municipal de Educação. A equipe
da Semed trabalha, sob tua orientação, para a educação integral. Não só
a de “tempo integral”. Mas uma educação libertadora. Ela só acontece
quando ela ataca o âmago, o centro, o cerne. E essa está na formação de
seres humanos cooperativos. Só se combate o crime, Edivaldo, com
educação. Ela é revolucionária por reformar o ser humano. Internamente!
São Luís tem todas as condições de sair da masmorra. E a solução está em
ensinar cooperação, solidariedade, respeito ao outro em uma dimensão
transdisciplinar. O Plano Municipal que está sendo elaborado tem essa
cara humana e libertadora.
Creio
que minha tarefa está finda. Entrego-te uma secretaria certamente com
os problemas colossais resolvidos. Outros menores há. E haverá. Educação
não para.
Agora, falo com
muita tranquilidade e transparência: a Ciência falou mais alto. Tenho
uma necessidade gigantesca de estar com os estudantes. De discutir. De
dialogar. De ouvir os meus colegas. A Universidade é minha trincheira.
Ou berço. Depois de tantos anos tentando dedicar tempo integral à
universidade, creio que é chegada a hora. Meu coração pede. A mão
reclama. Os pés ardem de vontade de estarem lá.
Agradeço
à equipe da Semed. Indiscriminadamente. Homens e mulheres dedicados.
Construtores do heroísmo. Aos diretores e diretoras. Professores e
professoras.
Aqui me despeço.
Continuarei torcendo para que tua equipe siga adiante. Que faça mais
avanços. Que saceie a sede de alegria que tem o povo.
Grande abraço”.
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